Ah, Minas Gerais! Só de pensar no nome, um monte de coisas gostosas vem à nossa mente, não é mesmo? Pão de queijo, doce de leite, doce de abóbora, diferentes tipos de queijo, tutu de feijão e, é claro, o bom e velho cafezinho, presente em todas as mesas mineiras, do começo ao fim do dia.
O café de Minas é algo tão forte que se confunde com a própria história do estado, fazendo parte do dia a dia de todos os mineiros. A própria característica do solo da região contribuiu para que o café se tornasse uma de suas marcas registradas, porque os cafezais precisam de solo fértil, clima e altitude propícios para o sucesso da lavoura, quesitos esses que são todos cumpridos pela região de Minas Gerais.
Neste material, você vai saber tudo sobre a tradição de produção cafeeira de Minas Gerais, desde a origem até os dias de hoje. Pronto para embarcar nesse túnel do tempo com aroma de café? Então continue a leitura!
Como tudo começou: a história da produção de café em Minas
A história do café em Minas Gerais e no Brasil é bastante rica. No período entre os anos de 1940 até 1955, as safras de café do nosso país variavam entre 15 e 20 milhões de sacas. Após o ano de 1957, apesar da ocorrência de grandes oscilações, o patamar de produção experimentou um grande aumento, passando a atingir mais de 20 milhões de sacas anuais.
Os estados de São Paulo e Paraná eram os maiores produtores de café até a década de 70. No entanto, nas décadas posteriores, o cultivo de café se expandiu no estado de Minas. Isso aconteceu devido a alguns fatores políticos e climáticos, sendo os principais deles o aparecimento de geadas nas lavouras mais expressivas de São Paulo e Paraná e a redução no estoque em diversos países produtores no mercado mundial.
Isso fez com que muitos produtores procurassem por regiões amplas de Cerrado para a prática da cafeicultura, levando-os, obviamente, até a área de Minas Gerais, que tem esse tipo de vegetação em predominância. Além disso, o governo de Minas passou a aderir ao Plano de Renovação e Revigoramento de Cafezais, fazendo com que o Governo Federal oferecesse mais recursos e promovesse a implantação de um maior número de cafezais na região mineira.
Essas ações começaram a ser mais expressivas a partir de 1978, quando os estímulos governamentais contribuíram para a criação de cafezais em praticamente todo o Estado, de todos os tamanhos (de 1 até 950 hectares).
Para se ter uma ideia de como foi essa expansão, na década de 70 a produção média de Minas Gerais era de 3,6 milhões de sacas por ano. Já em 1980, essa produção subiu para 8,1 milhões, um aumento de 2,25x.
Foi em 1985 que Minas assumiu o primeiro lugar na produção de café do país. Entre os anos de 1990 e 1999, a média de produção foi de 10,3 milhões de sacas por ano. Até 2010, essa média subiu para 18,4 milhões.
O avanço do segmento cafeeiro em Minas teve um papel transformador na região. Milhares de pessoas foram empregadas por meio da construção de armazéns e lavouras, além de muitas pesquisas científicas terem sido desenvolvidas.
O café é o produto agrícola que o Brasil mais exporta, vindo a maior parte dele de Minas Gerais. Para se ter uma ideia, em 2017, a comercialização de grãos de café verde somou US$ 3,4 bilhões, representando 14% das exportações estaduais.
Particularidades da produção de café nas principais regiões: como funciona a produção de café em Minas Gerais
No ano de 2017, o Sul de Minas e o Cerrado Mineiro foram responsáveis por produzir mais da metade da safra de café mineira. Na sequência, aparecem as regiões da Região das Matas, Chapadas. Em todas elas, a grande parte dos cafeicultores cultivam o café em propriedades médias e grandes, com exceção da Região das Matas, onde muitos cafeeiros trabalham em lavouras de até 30 hectares.
Veja abaixo mais curiosidades e estatística a respeito das maiores regiões de café de Minas Gerais.
Sul de Minas
O Sul de Minas é uma das áreas que mais produzem o café Arábica em território brasileiro. Sua altitude varia entre 850m e 1,250m, proporcionando um clima ameno com temperatura média por volta de 22 e 24°C.
Esses atributos e particularidades casam perfeitamente com a produção dos “carros chefes” da lavoura atualmente, que são as variedades de café chamadas de Mundo Novo e Catuaí, (seguidos por Obatã, Icatu e Rubi).
Esses cafés atingem as classificações mole ou estritamente mole, que são uma das melhores para a bebida. Devido à temperatura e à elevada altitude, o sabor é bastante encorpado e com acidez moderada, além de um aroma levemente frutado.
Cerrado Mineiro
Os cafés produzidos nas regiões de Cerrado são, em sua maioria, do grão Arábica, caracterizados pelo aspecto fino da bebida ao mesmo tempo em que um gosto bastante encorpado, além de seu aroma doce e envolvente.
Devido a região ter altitudes entre 800m e 1.000m, suas estações são bem definidas e pronunciadas. Os verões, como é de se esperar, são quentes e chuvosos, já os dias de inverno são preenchidos por temperaturas frias e clima seco.
Isso contribuiu bastante para a produção de café de alta qualidade, com sabores que se equilibram entre consistência e acidez. Os ares dessa área influem na florada dos cafezais, já que a etapa de floração é um das mais importantes no cultivo do café, definindo o potencial produtivo de todo o cafezal.
Assim, com estações bem-definidas, os grãos conseguem amadurecer de maneira uniforme, resultando em uma bebida adocicada, com forte corpo e aroma.
Região das Matas
Essa região está localizada na parte leste do estado, atualmente responsável pela produção exclusiva dos grãos tipo Arábica. Esse tipo de café se adequou muito bem às características das matas por ter uma topografia acidentada, com altitude entre 400m a 1.400m.
A região do Caparaó é um bom exemplo de sucesso, já que, hoje em dia, ela cultiva o café mais caro do mundo! As matas de Minas têm ganhado grande destaque internacional, levando prêmios devido à excelência de café produzido, resultado de um trabalho feito com dedicação e comprometimento.
O sabor do café produzido nessas regiões é bastante complexo, com gosto adocicado e equilíbrio na acidez, além de um aroma floral e suaves notas de chocolate, o que evidencia cada nuance de sabor.
Chapada de Minas
A Chapada de Minas é uma área que tem uma geografia diferenciada por seus planaltos cortados por rios e cheios de desfiladeiros.
O plantio de café na região teve início primeiro em propriedades maiores, depois foi se expandindo para aquelas de proporções menores.
Apesar de a maior parte do café da Chapada de Minas seja processada naturalmente, os melhores são os grãos que foram despolpados, ou seja, aqueles que permaneceram em grandes piscinas de água por 12 a 48 horas, produzidos em lavouras maiores e dando origem a bebidas com notas florais, frutadas e ácidas.
Já os pequenos e médios agricultores dessas regiões têm apostado no cultivo de café descascado, sendo um diferencial e uma alternativa mais rentável para esse tipo de produtor.
A produção de café e economia: de Minas e do Brasil
O estado de Minas Gerais é responsável, sozinho, por mais de 50% da produção de café, detendo praticamente todo o cultivo dos grãos de café tipo Arábica. Em termos de exportação, para se ter uma ideia, em 2017, Minas Gerais representou mais de 80% nas exportações de café para a Alemanha, Estados Unidos e Itália.
A produção de café em Minas produz uma renda bruta de cerca de 7 bilhões de reais, gerando, aproximadamente 300 mil empregos somente na lavoura, de acordo com um estudo feito pela Fundação Procafé.
Além de gerar renda, o cultivo de café também promove a estabilização da economia na região. Na época em que o nosso país enfrentou uma grande crise financeira, os produtores de café sentiram realmente a crise como apenas uma “marolinha”, comemorando, inclusive, as boas safras e preços que ultrapassaram os 500 reais a saca.
Se nos outros setores o cenário foi de demissão e redução de mão de obra, na agricultura cafeeira o nível de empregabilidade se manteve estável e sem grandes abalos.
Números e estatísticas
De acordo com informações passadas pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), em 2018, Minas Gerais foi responsável pela produção de cerca de 35 milhões sacas de café com peso de 60 quilos, um volume 35% maior em relação ao ano anterior.
Com esses números, o estado Mineiro deteve 54% da produção nacional de café e 20% da mundial. Para se ter uma noção do tamanho da representatividade, de cinco xícaras de café consumidas no mundo, uma delas sai de Minas Gerais.
Como foi dito anteriormente, a produção de café é umas das principais geradoras de renda de Minas. Das 853 cidades do Estado, 607 delas são produtoras de café, sendo que, em 340 delas, a agricultura cafeeira se configura como a principal atividade econômica daquela região.
Mais de 4 milhões da população mineira depende, seja direta, seja indiretamente, do cultivo de café para prover o seu sustento e o de sua família, o que reitera a relevância não somente econômica, mas também social dessa atividade.
No ano passado, 6,3% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil foram advindos da produção de café, tendo um faturamento total de 12 bilhões de reais. 8,4 bilhões desse valor foram originados a partir da produção do café em grão, e 3,7 bilhões de toda a indústria cafeeira.
Ainda sobre dados de 2018, Minas Gerais exportou aproximadamente 85% dos cafés produzidos no Brasil, principalmente o café verde cru, o que movimentou quase 3,5 bilhões de dólares em negociações com o comércio internacional.
Conforme mostrado no tópico anterior, os maiores compradores do café de Minas são a Alemanha, com 20,9%, os Estados Unidos, 17,7%, e Itália 12,3%.
O BDMG, (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais), se configura entre uma das principais fontes de crédito para o segmento no Estado, obtendo recursos por do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé).
Para se ter uma ideia, no ano-safra 2018/2019, foi desembolsado 244 milhões de reais pela instituição para o setor, o que representou um aumento de cerca de 35% em relação à quantia disponibilizado no mesmo período do ano anterior.
Totalizando os últimos quatro anos-safras, o BDMG desembolsou 617 milhões de reais para empresas e cooperativas produtoras de café de todo o estado de Minas.
Produção de cafés especiais e diferenciados: por que Minas deve focar neles
O setor cafeeiro entende como cafés especiais aqueles que são produzidos com um nível de qualidade superior aos demais, priorizando, acima de tudo, a sustentabilidade. Geralmente, eles recebem um certificado de empresas especializadas nesse tipo de análise, desde que atendam aos quesitos de qualidade requeridos.
Cafés especiais no mundo
O consumo desse tipo de café tem aumentado de forma considerável em todos os países. Algumas nações, como Etiópia, Colômbia, Guatemala e Costa Rica, estão se especializando no cultivo dos cafés especiais.
Na Costa Rica, por exemplo, mais de 80% da produção cafeeira já é voltada para esse nicho de mercado, que é ideal para os países cuja produção de baixa escala é predominante e são favorecidos pela vegetação e características ambientais, como é o caso do nosso país.
No Brasil
No Brasil, os produtores de café utilizam a identificação de origem, de café orgânico, certificados de qualidade, de boas práticas agrícolas e de comércio justo como estratégia e quesitos de diferenciação do café.
Nos últimos anos, o cultivo de cafés especiais aumentou, em média, 15%, saltando de 5,2 milhões para mais de 8,5 milhões de sacas em 2017. O Estado de Minas Gerais, especialmente a parte sul, é uma das regiões que receberam mais prêmios devido à boa qualidade do café.
A Emater-MG, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais, estabeleceu programa para certificar e premiar as propriedades cafeeiras. A finalidade é elevar o nível de qualidade de todos os cafés produzidos, promovendo as boas práticas de produção.
De acordo com dados da empresa, um dos programas estabelecidos, o Certifica Minas Café, tem trazido bons resultados, ajudando os pequenos e médios produtores a aumentarem seu cultivo de café especial, aumentando, assim, o seu lucro.
Assim sendo, partindo do princípio que o valor médio do café mineiro (e brasileiro) exportado não está entre os mais elevados, deve-se fomentar a produção de cafés especiais, algo que já é feito, em partes, pela Emater por algumas universidades públicas federais.
Apesar desse incentivo, o governo do Estado de Minas ainda precisa elaborar outras estratégias para que o setor de cafés especiais continue em expansão, já que, segundo especialistas, tudo relacionado a sustentabilidade e questões ambientais terão grande destaque nos próximos anos.
Cafés torrados: por que ele não é difundido no Brasil e as dificuldades enfrentadas para a sua produção
Hoje em dia, cultivo e produção no Brasil de café torrado e moído está focado no mercado interno, já que o nosso país só perde para os Estados Unidos no mercado consumidor de café, sendo o segundo maior do mundo (em termos de valores per capita, no entanto, as nações da União Europeia são as principais consumidoras).
No Brasil, os grupos internacionais Mellita, 3 Corações e JDE somam juntos cerca de 50% do café torrado e moído, sendo a outra metade preenchida por pequenas torrefadoras, que buscam seu espaço por meio da venda de um café que leva a sua ou a do varejista.
Isso porque, felizmente, as dificuldades para o ingresso de torrefação são baixas (quando falamos em uma escala microrregional), já que estima-se que com um investimento de aproximadamente 40 mil reais já seja possível ingressar no mercado.
No estado Mineiro, o segmento é mais pulverizado que a média dos outros estados. A maioria são microempresas que conseguem competir com as maiores por meio do baixo preço (algumas delas, inclusive, enfrentam dificuldade no cumprimento da legislação no que diz respeito à rotulagem).
Em geral, elas trabalham com estoque em pouca quantidade, o que faz com que elas permaneçam na classificação de microempresas, não tendo outra vantagem competitiva que não os preços baixos em relação às maiores.
Muitas dessas empresas que produzem café torrado e moído na região de Minas Gerais são familiares, carecendo, muitas vezes, de profissionalização em relação à gestão interna. Das quase 1.600 torrefadoras, somente 410 são associadas à Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) e se sujeitam ao controle de nível de pureza estabelecido pela Associação.
Isso faz com que a maior parte dessas empresas mineiras ainda não consigam competir de maneira rentável no mercado nacional. Assim sendo, o primeiro obstáculo a ser vencido é o aumento da competitividade de boa parte das micro e pequenas empresas torrefadoras de Minas Gerais para que elas possam, posteriormente, atingir o mercado externo.
No âmbito internacional, a indústria torrefadora também é bastante concentrada, o que dificulta o ingresso das torrefadoras brasileiras nesse mercado (até porque, das cinco maiores operantes no nosso país, três são estrangeiras). Por isso, é muito importante que o Governo Federal crie condições para que o nosso país (e, principalmente, o estado de Minas Gerais) amplie sua participação na produção de café torrado para competir internamente e depois a nível global.
Um relatório da ABI mostrou que as exportações brasileiras de café torrado estão reduzindo, enquanto que as importações estão aumentando. Isso, infelizmente, representa um ponto extremamente negativo para o país, já que o ingresso do Brasil no segmento de café torrado mundial proporcionaria ganhos em grande escala, além da redução da sazonalidade das vendas, maior capacitação tecnológica em produtos e processos, aperfeiçoamento na gestão das empresas e, é claro, geração de novos empregos.
Por que você precisa conhecer a produção cafeeira de Minas
Como visto, o casamento entre o café e Minas Gerais é bastante forte e duradouro, tendo grandes chances para se tornar cada vez mais frutíferos e trazer grandes progressos para o país se o Governo promover mais ações e recursos para a melhoria das lavouras de café do estado, principalmente as menores e as especializadas em grãos verdes e especiais.
Ao conhecer as lavouras e produtoras de café mineiro, você e sua família vão embarcar numa jornada rumo ao passado e poderão apreciar um dos melhores cafés do mundo, podendo sentir as nuances de sabor entre cada um deles, dependendo da região, e compará-los entre si!
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